Auditorias, consultorias, a cultura do milagre, um tiro no pé, e o Discernimento.
No Brasil, na última década, observamos um crescente aumento de escritórios que promovem as chamadas consultorias e auditorias empresariais. A maioria destes escritórios, que são voltados para os micro e pequenos empresários que necessitam de algum suporte de um especialista, são formados por profissionais que tiveram carreira e experiência trabalhando em alguma empresa, geralmente de médio ou grande porte.
Como executivos, passaram por diversos cargos, e assim foram acumulando experiências. Será que essa “bagagem” seria suficiente para orientar de forma prática e resolutiva pequenos empresários que precisam de soluções das mais urgentes e diversas?
O que pode ser observado, é que termos como valuation, due diligence, etc, são usados a todo tempo na oferta inicial de serviços por parte de consultores.
É mais ou menos assim, o consultor para saber o valor da empresa (valuation) precisa fazer uma auditoria (due diligence). Obtendo o valor da empresa e conhecendo os problemas financeiros, a idéia ao menos na teoria do “pacote de serviços”, é ajustar a empresa e direcioná-la a um caminho mais proveitoso, reduzindo custas, ou captando venture capital por meio de um novo sócio, dentre outras possibilidades.
Então vejamos, de um lado, temos em boa parte das vezes, um consultor com pouca ou nenhuma experiência prática como empresário, e que na segunda metade da vida, está obtendo uma receita adicional(complemento de renda), vendendo serviços. Do outro lado, temos um pequeno “empresário”, marinheiro de primeira viagem na maioria das vezes, que caiu de paraquedas no mundo dos negócios, não fez um bom planejamento, não possuía ou não dimensionou capital de giro em quantidade adequada, não realizou uma análise de swot do mercado que ingressou, não fez estudos jurídicos ou fiscais da operação…..e como sabemos, negócios, no Brasil, sempre foram, e hoje mais do que nunca, muito difíceis de rentabilizar. Agora, o empresário está devendo as calças, deve nos bancos, deve ao fisco, deve junto a fornecedores, atrasa salários de funcionários…..e o pior, boa parte tem enorme dificuldade em aceitar a situação.
Com a melhor das intenções, e também com a necessidade de vender serviços para se manter no negócio, o consultor oferece serviços para auxiliar nos problemas da empresa. O empresário, quando paga, paga com o dinheiro que não tem. Geralmente, 30, 60, 80 mil reais, são os valores praticados por consultorias visando identificar problemas na empresa e promover suporte ao empresário. De um lado, o consultor presta o serviço, e o entrega em 30, 60 dias, mas por mais claro que tenha sido, o empresário do outro lado, recebe os serviços, mas espera um milagre. São dívidas das mais diversas que a tal empresa possui, e também muitos paliativos que só fizeram as dívidas crescerem, e que agora mostram a realidade, a empresa vai mal, e não um, mas muitos “milagres” seriam necessários…..
A venda dos serviços, acabou ali. No curto prazo. O cliente, sem a solução que imaginava nos sonhos mais profundos, sente-se frustrado, as vezes até enganado. Ruim para o consultor. Péssimo para o empresário.
Um tiro no pé!
Quem está errado? Penso que ambos. Um não possuía preparo suficiente e pensamento de longo prazo, assim, por melhor que tenha sido a prestação do serviço, acabou por ali. Talvez selecionar melhor o cliente, fosse uma solução. Mas é realmente difícil opinar nesse sentido. O empresário, por sua vez, precisa por a bola no chão e se situar. Vivemos no país com as mais altas taxas de juros do mundo. Os impostos, tornam muitas vezes, inviáveis muitos negócios. O crédito é de curto prazo, as margens de venda são cada vez menores, a concorrência cada vez mais desleal, falta de capacitação, falta de compromisso, falta de planejamento…….
Falta discernimento!
Aproveitando o assunto acima, vou estender escrevendo sobre as práticas de empresas de consultorias que se dizem especialistas nas vendas de negócios e captação de recursos para empresas. Cuidado. Muito discernimento. MUITO.
O enredo é muito parecido com o scopo descrito acima, no assunto de auditorias e suporte. Um ou alguns profissionais, com experiência como empregados, se unem, após uma carreira muitas vezes positiva, a frente de um departamento ou setores de uma determinada empresa.
Em primeiro lugar, devemos entender, que o mundo é muito mais dinâmico do que estar gerenciando o departamento de uma empresa em um país ou região. Outro detalhe, é que muitas vezes o executivo não conhece os bastidores da empresa como um todo, ele apenas recebe o seu salário e as vezes uma comissão adicional ao fim de cada período.
Agora, este profissional, enxerga possibilidades de ganho e renda extra, oferecendo serviços de avaliação e empresas, e segundo este, fundamentais para quem deseja receber um aporte ou vender a empresa. Cobram-se taxas, estimam-se valores….
A maioria pergunta, quem fez a sua auditoria, quem apresentou este valuation? Cada uma tem uma visão diferente e puxa a sardinha para o seu lado. Poderia aqui, citar centenas de casos relacionados e erros grosseiros neste formato para avaliação ou validação de um negócio, mas vou me resumir e citar apenas um que fora mundialmente conhecido aqui do Brasil, e é recente.
Um grande empresário brasileiro, um dos maiores de todos os tempos, apresentou auditorias, laudos, e plano de negócios, com as mais diversas certificações e validados pelos maiores especialistas do gênero. Trata-se de um conjunto de empresas, com atuações que iam do segmento de entretenimento a energia, logística…entre tantos outros. As empresas foram lançadas na bolsa de valores, no Brasil, nos Estados Unidos, passaram por todo tipo de fiscalização. Dezenas de milhares de investidores compraram ações. Investidores individuais, fundos, bancos, todos compraram o que viram no papel.
Muito papel, e blá, blá, blá….
O final a gente lembra, o castelo caiu. Não havia minério, petróleo, ou viabilidade para que os supostos negócios fossem adiante. Um dos juízes solicitou a defesa que enviasse a documentação, auditorias, laudos. Eram tantos papéis, tantas validações, tantas certificações, que foi necessário desocupar uma sala com 45 metros quadrados para servir de arquivo. Mais de 60 consultores, auditores e certificadores foram chamados. Mas ao final, o problema persistia. Os papéis jamais traduziram ou poderiam traduzir a certeza de um grande negócio. O prejuízo foi certo, grande, e por conta desse case em particular, muitos investidores fugiram do Brasil.
Foi um tiro no pé! De todos.
Com certeza faltou discernimento.
A cultura de que a solução pelos erros cometidos, serão resolvidos de imediato por um milagre, é um erro. A cultura de que é possível investir com segurança, se baseando em papéis e ficar rico rápido dessa forma, é um grande erro.
Culpar os outros pelos seus próprios fracassos, é um tiro no pé.
Por isso, se você pensa em prestar um serviço de excelência e de forma resolutiva, pare pense, e verifique se possui preparo e condições para isso, condições práticas, que vão muito além de uma folha de papel.
Se você pensa em investir, ou montar um negócio sem capital, sem planejamento, e ficar rico rápido ou resolver os problemas acumulados em anos em um piscar de olhos, pare, repense a sua vida, e enxergue as coisas de forma factual.
Tenha discernimento e evite um tiro no pé.
Cláudio Marcellini
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